1ª agressão doméstica de negras é antes dos 25 anos para maioria

estudos divulgados

Família, igreja e amigos são os principais pontos de apoio para as vítimas, mostra Pesquisa do DataSenado e da Nexus

Mais da metade (53%) das mulheres negras vítimas de violência doméstica ou familiar no Brasil sofrem a primeira agressão antes dos 25 anos. Para 30% delas, o contato com o abuso vem antes mesmo da maioridade: 2% sofrem a primeira violência antes dos seis anos, 5% dos sete aos 11 anos, 5% dos 12 aos 14 anos e 18% dos 15 aos 18 anos.

Os dados inéditos são da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra feita pelo DataSenado e pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência. O estudo também mostrou que 87% das mulheres negras que declararam terem sofrido violência doméstica por um homem disseram que houve violência psicológica. Ao todo, 78% sofreram violência física, 76%, moral, 33% relataram passar por violência patrimonial e 25%, sexual.

Além da agressão, as mulheres que disseram já terem sido vítimas de algum tipo de violência por um homem nos últimos 12 meses contam ainda que sofreram com falsas acusações (18%), se sentiram assustadas por episódios de gritaria ou quebra de objetos (17%), foram insultadas (16%), humilhadas (16%) e ameaçadas (10%).

Na hora de procurar ajuda, o levantamento registrou que 60% das mulheres pretas e pardas agredidas recorrem à família. Já 45% buscam acolhimento na igreja e 41%, a ajuda de amigos. 32% das vítimas afirmaram terem buscado atendimento em uma delegacia comum e, 23%, foram até a Delegacia da Mulher.

Apesar de 55% das mulheres negras vítimas de violência recorrerem à ajuda policial depois de um episódio de agressão, apenas 28% solicitam proteção. Em 48% dos casos em que há essa solicitação, a medida protetiva é descumprida pelo agressor.

“A alta incidência de agressões contra mulheres negras ainda jovens, marcada por abusos psicológicos, físicos, patrimoniais e morais, revela uma dinâmica de controle que silencia as vítimas e dificulta a ruptura do ciclo de violência. Esses dados reforçam a importância de iniciativas preventivas e de proteção ampliada. Embora muitas vítimas busquem apoio em suas redes sociais, como família e amigos, é fundamental fortalecer políticas públicas e ampliar o acesso a serviços especializados, garantindo acolhimento, segurança e caminhos reais para reconstrução”, aponta Milene Tomoike, analista do Observatório da Mulher Contra a Violência.

CONTEXTO – Por que somente mulheres negras?

O Mapa Nacional da Violência de Gênero, lançado em novembro de 2023, reúne informações de diversas bases. Os dados usados revelaram um quadro alarmante em que mulheres negras são desproporcionalmente vitimadas pela violência. Em particular, dados extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) – base alimentada por registros de doenças de notificação compulsória ao Sistema Único de Saúde (SUS) – mostram que, em 2022, 202.608 brasileiras sofreram algum tipo de violência, sendo que a maioria (55%) eram mulheres negras (112.162 brasileiras pretas e pardas).

Além disso, informações do Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp) indicam que, entre as mulheres vítimas de violência sexual cujas ocorrências policiais incluíam o registro de cor/raça (8.062), 62% (5.024) eram pretas ou pardas.

Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) evidenciam outro dado alarmante: entre as 3.373 mulheres assassinadas em 2022, cujas informações de raça e cor foram registradas, 67% eram negras (2.276). Diante disso, a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher foi aprofundada com um recorte específico para mulheres negras a fim de tentar entender as particularidades das vivências e opiniões das mulheres negras em relação à violência de gênero.

A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra considerou como negras as mulheres autodeclaradas pretas ou pardas.

METODOLOGIA

Essa é a maior pesquisa de opinião sobre o tema feita no Brasil. Entre 21 de agosto a 25 de setembro de 2023, 13.977 brasileiras negras de 16 anos ou mais foram entrevistadas por telefone, em amostra representativa da opinião da população feminina negra brasileira. As amostras do DataSenado são totalmente probabilísticas. Nas entrevistas são feitas perguntas que permitem estimar a margem de erro para cada um dos resultados aqui divulgados, calculados com nível de confiança de 95%.

Dessa forma, não existe uma única margem de erro para toda a pesquisa. Não obstante, considerando todas as estimativas para tabelas simples, sem cruzamentos, tem-se que, em média, a margem de erro observada nas estimativas foi de 1,44%, com desvio padrão de 1,33%. As entrevistas foram distribuídas por todas as unidades da Federação.

SOBRE O DATASENADO
O Instituto de Pesquisa DataSenado tem 20 anos de história e foi criado para reforçar a representação parlamentar federativa do Senado Federal. Este levantamento  integra série histórica iniciada em 2005 e tem por objetivo ouvir cidadãs brasileiras acerca de aspectos relacionados à desigualdade de gênero e a agressões contra mulheres no país. Para celebrar a décima edição da pesquisa, o tamanho da amostra foi ampliado de forma considerável, o que permitiu, pela primeira vez, analisar-se os dados por estado e pelo Distrito Federal.

SOBRE O OBSERVATÓRIO DA MULHER CONTRA A VIOLÊNCIA

O Observatório da Mulher contra a Violência foi criado em março de 2016 pelo Senado Federal com o objetivo de ser uma plataforma de referência nacional e internacional de dados, pesquisa, análise e intercâmbio entre as principais instituições atuantes na temática de violência contra mulheres.

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